terça-feira, 18 de março de 2008

A Morte de Gregor Samsa


O homem revoltado admira-se ao revelar silenciosamente uma pequenina concha sob a fúria cortante de uma onda...
O cheiro forte vinha da janela aberta e parecia empurrar as cortinas expondo as formas monótonas e as cores acinzentadas dos que passavam apressados pelos becos. Cheiro de percevejo. Ao olhar seu corpo e a sentir o cheiro dos becos levantara esta manhã ciente da morte. Ter ciência e clareza da morte traz liberdade sob dois caminhos distintos: o que conduz o punho da espada à luta e o que deixa cair, sem impedimentos, o próprio amontoado de carne do cume da montanha mais alta.
À Noite os maus cheiros dormem, pois não estão a passear aqui por baixo as almas vagantes que o Dia assombra. Voluptuosos sonhos envoltos em perfume de sândalo guiam a eterna caminhada noturna, apreciada em especial por se conhecer a podridão do percevejo. O segredo da Revolução está em fazer de tudo Noite, sempre a caminhar rumo à escuridão sob a lâmina da espada.
Esta talvez seja a vida de Gregor Samsa. Morrer para o mundo das almas que vagam e lutar por uma vida envolta por sândalos.