terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Para Erêndira um escrito besta

“... vivia na sua penumbra, descobrindo outras formas de beleza e de horror que nunca imaginara no mundo estreito da cama...”
Gabriel Garcia Márquez 1972
A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada


Viu desta vez as montanhas. Sentiu-se mais do que aliviada e quase absurdamente feliz com uma sensibilidade enfeitando a razão anteriormente reta como se a partir desta aventura os cabelos pudessem lhe cobrir os olhos novamente sem que lhe tapasse a visão. Para tanto não lhe faltou esforços, visto que as raízes dos vivos moirões que a cercavam iam tão firmes e profundas que nem mesmo o farpado de um arame se fazia necessário, reparando ser esta cruel estratégia tão comum e sutil ao redor de seus pastos que agora era capaz de ver por debaixo do solo desértico onde quer que vá.
Não enojava.
Por entre floreios de cores leves levou por seus acampamentos o silêncio nu de quem cava um escape.
Erêndira agora corre. O sol castiga os preguiçosos com seus tentáculos dourados e Erêndida por isso corre mais feroz que o vento da desgraça para as montanhas que sempre sustentarão seu corpo, se assim continuar a cavar sua liberdade.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O frescor de outra aurora

O braço repousa o suor das cicatrizes em um seio negro.
Na alcova deste monte, onde bocejam bocas de madeira sobre uma cidade que dorme, não há clamor que deixe de chegar ao mar ressoando a injúria de um o gozo engasgado na construção de outra aurora. Feixes de luz não nascem fácil. Cores vivas entre tambores, pálidas em meio ao fumo e escorregadias entre o sexo, compõem a embriaguez necessária à volúpia dos raios da luta. O cenário mais belo reflete o olhar do expectador. No morro, o baixo porto dos botequins foi jogado pro alto com seus senhores e seus ares de manhã, bastando apenas o dia em que o gozo escorra pela aurora de um rígido seio negro e que o sopro refresque o suor novamente.

The Blues are Brewin

Entre a ultima fonte segura de prazer e o nascer de novos pelos na barba rejuvenescida, o firmamento escangalhado com suas reviravoltas parou de vez sobre o próprio eixo.
Era o silêncio de uma menina respirando a paisagem.