quarta-feira, 27 de outubro de 2010

URBANIZAÇÃO

Ao redor de fumo e pensamentos, um negro silencia o mundo que gira rápido demais.
Frente aos olhos vão as almas e dentro de si as lágrimas.

IRMÃO MEU...

Em um vento sem arestas e num mar sem cabelos, desejo crianças ninadas ao sabor das marés.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

LAROIÊ! MOJUBÁ!

Dá de ombros
Dá de costas
Cego e surdo
Tempo menino que vem com troça de coisa antiga

Não vê que pelo centro a gente vai ao vento e morre oca pregada na cruz.

Não vê que pelos cantos as mãos tem calos e não calam, gargalham alto.

Não vê o povo de rua que resiste.

Não vê nada esse tempo menino que faz troça de coisa antiga.

Dá de ombros
Dá de costas
Cego e surdo.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Aos que saíram mais cedo dessa madrugada

...e ao Paulo que realmente saiu bem cedo.



Aquele trago enevoou sonhos de uma só vez.
Foi embora numa fogueira de imagens e não se encontrou mais nada que se via nas noites de calor, restando do fogo só o frio, a ausência das coisas.
E o fogo tem disso.
Consome cuspindo cinzas, borrando a terra que também consome, se alimentando do que foi brasa, do corpo que dançou vermelho ao vento e que um dia tem câimbra.
E a terra também tem disso.
Bem quando acaba a madrugada dá cama pro que foi lenha enchendo a barriga pra mais tarde parir outra moça que sonha e que gira e que engole pela primeira vez a noite úmida que geme.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Para essa tal vanguarda poética

Anda com o profano.

Anda com os esquecidos, com gente sem chão, sem nada, com os miseráveis.
Anda com gente surrada ao lado da fome de pé rachado.

Escreve com os que não sabem ler e escreve com o escarro preto do sangue da revolta.

Anda com os insultados, com as putas, com os bêbados, anda com a morte das ruas.

Escreve com quem não sabe ler e escreve com a terra pisada da revolta pra ver a semente rasgando a dureza dos vivos.

Vê o povo germinando e se movendo.

Anda e escreve.
Aprende e ensina.

Escreve com a fúria de quem vive a vida dos humilhados.