segunda-feira, 12 de maio de 2008

Primeiro verso

O que seria do primeiro verso se não fosse a agonia de querer dizer e não saber como... O primeiro passo sempre foi o mais longo, ofuscando o tamanho do muro e apontando para sua cabeça a mais mortal das armas. A arma dos que se fazem inocentes só para ver seu lápis de lado no primeiro verso. Ver você se afogar na primeira onda, para que sua voz não incomode mais e sua força se torne medo.
Estar disposto a estufar o peito, entregando sua vida para escrever o poema que seu espírito tanto insiste em mostrar ao mundo é a mais bonita das rimas.
Talvez seja como andar na beira do mar e ver revelar-se silenciosamente uma pequenina concha após a fúria cortante de uma onda...

Este texto não prega a imobilidade!! caso você interprete mal...

Existem meios e princípios diferentes de se desligar do que existe de real ao redor de nossos olhos. As formas nem sempre são necessárias e negá-las, negar o concreto dedicando-se apenas ao abstrato interior do conhecimento de si mesmo pode ser um destes meios ou um destes princípios. A negação pode, entretanto, ser uma urgente necessidade de fuga inconsciente, excluída de qualquer criticismo, infantil e desprovida de auto-conhecimento, como anda acontecendo em todas as partes.
Fecho os olhos e as utopias aparecem. Fecho os olhos por revolução e não por medo. Não existe fraqueza alguma. Simplesmente os olhos se fecham e o corpo luta para continuar sendo ele mesmo ao invés de se juntar aos amontoados de carne que desfila sobre os ruídos ofuscantes das luzes de neon.

sábado, 10 de maio de 2008

Enquanto falamos aos nossos filhos

Hoje enquanto a terra vai sendo molhada, todos os sentidos se aguçam num raro momento de beleza. Passamos demasiadas horas sobre solos que não se lavam e assistimos por muitos dias a água escorrer pela negra capa de dureza moderna. Mas hoje não. Hoje a terra vai cheirando prazer e despertando vida aos que respiram. Ao sentirmos em nossas mãos a textura de estarmos vivos, uma corrente de energia vital percorre cada centímetro do corpo, célula a célula, até transbordar a mais nobre exigência que a terra nos incumbe: semeá-la com paixão,sabedoria e respeito para que tenhamos força e delicadeza na hora de mostrarmos aos nossos filhos como é belo o cair da chuva.

O que entendo por amor

Por agora imagine seu corpo submerso no mar.
Prazer e agonia?.
Isto é o que entendo por amor.
“ Parecidos al arroyo que pasa, nosotros cambiamos á cada instante; nuestra vida se renueva por minutos y, si nosotros nos creemos ser siempre los mismo, es por una ilusión de nuestro espíritu.”
Elisse Reclus- El Arroyo

Sobre poesia e luta

É até possível que haja liberdade sem luta, mas deixo isso pros que ainda acreditam em Deus.
Não pense que é pequena a fila dos que se afastam da realidade pela dureza das cenas impressas, pois ficaria de queixos caídos com a surpresa...
Realmente estávamos perdidos até descobrirmos a mágica combinação de poesia e batalha; seguir como seguem os moradores da floresta, vivendo com pássaros e víboras, suculentos frutos em viagens penosas. A poesia protege nossos pés entre espinhos e pedras, nos faz capazes de sonhar bem antes que nossas cabeças toquem o solo, brincando de ser quem sempre fomos, mas nunca ousamos revelar.
Há de se tomar cuidado apenas com as armadilhas oníricas que te fazem adorar mais os pés do que a própria jornada, pois o preço que se paga é nunca ir a lugar algum.

A negação dos prazeres

Sabe-se bem o que querem, estes que teimam em negar pequenos prazeres aos homens e mulheres, estes que possuem as chaves de todas as portas e impedem o acesso à vida. Querem ver nos outros, por não conseguirem sozinhos, que existe ainda emoção, raiva, revolta, repugna, ao invés de apenas ambição e luxúria. Raiva e revolta é o que move o coração dos que dia após dia assistem enfileirados, o desfilar de felicidade a que está fundamentado nosso eterno fechar de portas. Apenas riem como se a vida estivesse por acabar agora, enquanto do outro lado, mal sabem ainda qual o real preço da vaidade.