quarta-feira, 22 de outubro de 2008

R.E.F. escreve a Afonso

...o pior erro do rebanho é achar que o mundo vai até onde a vista alcança.

Tens a chave de suas jaulas em mãos
(e sem dominar teu saber), sabe disso;
mas mantem-se ali por puro medo.
Saiba homem prisioneiro:
- Basta fechar os olhos daí de dentro de tua gaiola;
para que tenha o poder de explodir um mundo-inteiro.

No entanto, abandonado confortavelmente nas poltronas de sua sala escura,
deslumbra-se pela luz e pelo movimento;
que quase hipnotizam .
Os rosto humanos (iguais ao teu) fascinam-te a ponto de alegrar-se pela bruta mudança de ambientes.
Tua desgraça faz que aceite os lugares comuns mais depreciados.

Espectador dos seres e de coisas concretas:
-Isóla-te em seu habitat psíquico, que assim, quase adormece graças ao silêncio da escuridão.
Êxtase!!! Nenhuma outra expressão humana melhor define essa vergonha.
Mas melhor que qualquer coisa, esse estado é capaz de embrutecê-lo.

Tuas portas dominam tuas entradas. Caluniam para teus ouvidos; escondem as chaves; mudam as fechaduras;
Nem se quisesse se libertar.
(Mas não quer!!!)
Elas sofrem para ter grande cuidado em não perturbar tua tranqüilidade.
Deixando fechada a maravilhosa janela da tela sobre o mundo libertador da poesia.
Optam por fazê-lo refletir parcialmente os argumentos que podem compor uma continuação dessa nossa vida comum ( repetindo mil vezes o mesmo drama ou fazendo esquecer as horas penosas do trabalho diário.)!

http://www.tuta-e-meia.blogspot.com/

Luís, o semeador

Junte cinco homens a adorar um outro qualquer que verá como nascem os corvos.
Tudo havia de lhe mostrar... tudo ao seu redor apontava o erro inevitável que estava prestes a cometer. Porém, arrancar vidas inocentes em algum desses lugares já por demais acostumados à morte, não lhe causava mais tanto alarde pois aprendera com seus seguidores que os espíritos só seguem as almas dos assassinos quando estes sujam a mão de sangue. Aprendeu portanto, a lavá-las bem... Descobriu formas de não fitar suas vítimas nos olhos, de nem ao menos saber seus nomes, de escorraçar corpos surrados sem a mínima piedade até que sua fama esteja rejuvenescida. Mais pragas, mais poder! Mais chagas marcam pobres doentes de uma terra envenenada.
Ó semeador, “que a mão do tempo e o hálito dos homens murchem a flor das ilusões da vida”*
Que seus filhos comam algo melhor do que o pão cultivado por suas mãos, pois outros não terão a mesma sorte...morrerão secos como folhas, por tuas fórmulas mirabolantes.

*Joaquim Maria M.de A., Musa Consolatrix 1864

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O encanto da morada

Passa por estas portas e sente o nojo de vê-las abertas só aos teus senhores. Segue firme com a ânsia, impede o vômito de sujar tua manga, mas não deixe de golfar, pois sufocaria com a viscosidade da obediência.
Noite passada a mesa foi posta. Refestelam-se com carne de servos, reunidos atrás de cada estandarte. Tal carne não sacia a gula, apodrece e espalha fedor por ruas inteiras, antes mesmo de esvaziarem as bandejas.
Abandona o posto que te designam. Querem sempre te ver onde está agora: do lado de fora dos portões, com o rabo entre as pernas e um olhar de recompensa. Desafia, mesmo que só um pouco, o vigia da entrada, que verá seu desespero encarnado em violência contra teu corpo. Tentará te desmembrar, engolir a seco teus ossos e ainda sim refletirá a postura de mantedor da ordem, pacificador cristão.
Somente isso, porém, não te faz deixar de desafiá-lo. Todas as vezes que passa por estas portas, teu estômago embrulha, o guarda empunha, teu vômito sobe, o punhal lhe corta, teu sangue no chão, tua náusea em vão??!! Teu senhor sabe que não... cada maltrapilho embriagado à sua porta traz tamanha insegurança, que começa a ter medo da própria carne durante a janta. Sabe que um dia o vômito das ruas entra pelas janelas e afoga sua luxúria.
Mas se acha, entretanto, que deve sorrir ao ver o jardim tão belo de seu benfeitor, se acha entretanto que fui imperativo, exagerado ou decadente... põe a mesa, que teu senhor tem fome... retire-se educadamente, retorne a tua pocilga e agradeça tua lavagem diária a Deus e à virgem Maria na hora de dormir entre teus amigos porcos conformados.