terça-feira, 7 de outubro de 2008

O encanto da morada

Passa por estas portas e sente o nojo de vê-las abertas só aos teus senhores. Segue firme com a ânsia, impede o vômito de sujar tua manga, mas não deixe de golfar, pois sufocaria com a viscosidade da obediência.
Noite passada a mesa foi posta. Refestelam-se com carne de servos, reunidos atrás de cada estandarte. Tal carne não sacia a gula, apodrece e espalha fedor por ruas inteiras, antes mesmo de esvaziarem as bandejas.
Abandona o posto que te designam. Querem sempre te ver onde está agora: do lado de fora dos portões, com o rabo entre as pernas e um olhar de recompensa. Desafia, mesmo que só um pouco, o vigia da entrada, que verá seu desespero encarnado em violência contra teu corpo. Tentará te desmembrar, engolir a seco teus ossos e ainda sim refletirá a postura de mantedor da ordem, pacificador cristão.
Somente isso, porém, não te faz deixar de desafiá-lo. Todas as vezes que passa por estas portas, teu estômago embrulha, o guarda empunha, teu vômito sobe, o punhal lhe corta, teu sangue no chão, tua náusea em vão??!! Teu senhor sabe que não... cada maltrapilho embriagado à sua porta traz tamanha insegurança, que começa a ter medo da própria carne durante a janta. Sabe que um dia o vômito das ruas entra pelas janelas e afoga sua luxúria.
Mas se acha, entretanto, que deve sorrir ao ver o jardim tão belo de seu benfeitor, se acha entretanto que fui imperativo, exagerado ou decadente... põe a mesa, que teu senhor tem fome... retire-se educadamente, retorne a tua pocilga e agradeça tua lavagem diária a Deus e à virgem Maria na hora de dormir entre teus amigos porcos conformados.

Um comentário:

tutaméia disse...

De minha parte, eu luto pelo cinema a.(i).[su].rreal,
porque esse cinema me dará visão integral da realidade,
aumentará meu conhecimento das coisas e dos seres,
me abrirá o mundo maravilhoso do desconhecido,
de tudo o que não encontro na imprensa diária ou na rua.
Aqui proponho a restauração dos sentimentos humanos
e do instinto como ponto de partida para uma nova linguagem.
Prego a destruição dessa sociedade em que vivemos
e a criação de uma nova, a ser organizada em outras bases.
Dessa forma, pretendo atingir uma outra realidade,
situada no plano do subconsciente e do inconsciente.[...]