terça-feira, 23 de agosto de 2011

Arte só

Foi ao peito o chapéu das horas em respeito ao vazio teatro dos pobres.

Quieto, cabisbaixo e às cócegas com a lama estranha que escorregava pelas marcas do rosto, ouviu os aplausos fantasmas de seus ex-amores em mais uma noite de encenação solitária.
Pelos fundos sai ao porto, trôpego de cinza a negro, de mãos dadas com a ausência até que o sol envergonhe suas feridas expostas.

Segue itinerante o espetáculo, errante por essência.
Mais um poeta artista da fome.



Classes

pra Guilherme, do teu irmão que luta...


É simples.

Uma vez ao ano, flor embucha, fruta vem e quando chuva tem, povo planta.

Gente humilde que não é boba...

trabalha, espera e come.

No trabalho canta, na espera cria e quando come bebe.

É simples.

Gente não humilde que é boba...

não trabalha, só espera, só come.

vive do canto, vive da cria, vive da comida feita por outros.

É triste.

Quando a vida chora gente humilde cala
como é injusta gente boba ri.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Para essa tal vanguarda poética / 2

"De tanto mirar la luna,
ya nada sabes mirar.
Eres como un pobre ciego,
que no sabe a dónde va.
"
El Poeta - Atahualpa Yupanqui


Há de se criar.

sem nada além de luz
sem razão que seja...
pois o mistério exige.

mas se sofre o mundo

cria como quem traz chuva
pra que ninguém se ofusque no feixe claro da ilusão.