quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Anotações sobre metafísica

Fatalista como os seios de uma puta triste.Há sempre uma ferida que geme entorno de seus ares como o vento das prisões, e isso lhe faz falta nos dias de praia em que ondas frescas com o sal dos mares, cicatrizam por instantes o eterno odor.
A certeza é como um câncer que não cresce, pele sobre pele que não se sobrepõe, mal que não cessa e não avança. Há de se notar pelos arredores, que a doença é, e não está sendo; o que lhe lembra de fato um seio eternamente murcho.
Fatalista.
Nada mais sem esperança do que a própria ilusão.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Entre grutas e trilhas desfilam as eras.

Desfrutava do costume de ir às grutas. Rochas e fontes entrelaçando sutilezas com seres e ervas desafiam o hálito e a carne, vulgares ao sabor das eras. Cansada ao descer a trilha, ainda ao ar livre, adormece sobre o colchão da mata e sob o teto de estrelas, comungando o que foi e o que é, neste viver efêmero. O deleite da imaginação não procura um fim. Flui e escorre incertezas do mundo pois tolo seria sonhar apenas ao dormir, caminhando apenas para chegar. Não retorna. Retornar é como um suspiro após a morte. Segue seus passos como quem nunca houvesse repousado. Como quem não tivesse ido a lugar algum.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Muitos

Certos processos desconfiguram o que há. Absurdos inteligíveis nascem e continuam germinando como sementes que não sentem sede, implorando mesmo assim o dia em que a chuva escorra seu conforto. Sentia muito. Sentia por todos os poros tudo o que havia para sentir, e este fardo pesava horrores, o que lhe obrigava a caminhar em silêncio ouvindo, saboreando e inalando a visão do toque na superfície do viver só. Muito a experimentar e o pouco sono a sonhar entre seus amores que não podiam descrever mais do que as figuras coladas nas paredes das lembranças que um dia já viveram, quando a vida era menos dura. Campos secos adornados por flores mortas enquanto cegos sorrisos apressados seguem em direção ao calvário diário dos pobres diabos. Este fardo pesava horrores. Ser um pobre diabo que ao cruzar seu calvário sonhava sonos tão reais que desconfiguravam o que havia sendo imposto e por isso lhe sufocavam os poros a fim de tornar seus sentidos nada mais que absurdos inteligíveis por seus amores, mantendo a chuva longe de outras sementes. Mas sente porém, que certos processos escorrem lentamente por entre os rígidos troncos destas frondosas copas, como a água que em silêncio conforta tudo o que há para sentir, germinando lembranças que um dia vem à tona com um desejo irresistível de semear flores em campos mortos que suplicam a vida.