segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Muitos

Certos processos desconfiguram o que há. Absurdos inteligíveis nascem e continuam germinando como sementes que não sentem sede, implorando mesmo assim o dia em que a chuva escorra seu conforto. Sentia muito. Sentia por todos os poros tudo o que havia para sentir, e este fardo pesava horrores, o que lhe obrigava a caminhar em silêncio ouvindo, saboreando e inalando a visão do toque na superfície do viver só. Muito a experimentar e o pouco sono a sonhar entre seus amores que não podiam descrever mais do que as figuras coladas nas paredes das lembranças que um dia já viveram, quando a vida era menos dura. Campos secos adornados por flores mortas enquanto cegos sorrisos apressados seguem em direção ao calvário diário dos pobres diabos. Este fardo pesava horrores. Ser um pobre diabo que ao cruzar seu calvário sonhava sonos tão reais que desconfiguravam o que havia sendo imposto e por isso lhe sufocavam os poros a fim de tornar seus sentidos nada mais que absurdos inteligíveis por seus amores, mantendo a chuva longe de outras sementes. Mas sente porém, que certos processos escorrem lentamente por entre os rígidos troncos destas frondosas copas, como a água que em silêncio conforta tudo o que há para sentir, germinando lembranças que um dia vem à tona com um desejo irresistível de semear flores em campos mortos que suplicam a vida.

2 comentários:

tutaméia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
tutaméia disse...

Não sei se o mundo imagina o que acontece aqui, não tem como imaginar...
Vi dezenas de pessoas morrerem por inanição, ficarem dias sem comer ou beber água, expostos ao tempo, feito bichos. O cheiro desse lugar é medonho. As chaminés despejavam uma fumaça acre de carne humana sendo queimada.
Mas continuo sob esse céu...muros, não posso pular.....pedras, não posso jogar....paredes vão me escutar...paredes vazias de alguém. Minha casa é aqui? Minha terra é aqui?!? Muros, pedras, cercas, arames, farpados em farpas de gente.
Olhos saltados, mãos para o alto, estou na rua com fome, hei homem, não aponte esse dedo assim sem quê nem pra quê, não atire em mim, porque? Preciso sonhar...não atire é o fim! Mas o que restou das lembranças...hei homem, o que sobrou das esperanças? No centro vim morar pra perto da cidade ficar, mas o que aconteceu, a cidade mais longe de mim ficou!!!!queria gente, gente, e entrei nessa guerra fria, eles passam pra lá e pra cá, e eu continuo aqui...e parece que você anda sozinho numa cidade de vinte milhões de habitantes e ninguém tem um lenço pra você....