terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Genealogia da revolta

"Os primeiros que saem compreendem com seus ossos
que não haverá paraiso nem amores desfolhados
sabem que vão ao lodaçal de números e leis,
a brinquedos sem arte,a suores sem fruto.
A luz é sepultada por correntes e ruídos
em impudico reto de ciências sem raízes.
Pelos bairros há gentes que vacilam insones
como recém saídas de um naufrágio de sangue."

Federico Garcia Lorca "A Aurora" 1929



Eis que teu instrumento tocou as notas azuis do infortúnio quando num verão blasfêmico o sopro excitou tuas costas onde nenhum amante conseguiu tocar.

O gemido, o vinagre e o sal da ferida pueril, limbo ardente da insone gira dos bêbados, fizeram doer o que já era sangue.

Como só agora notaste a melodia quebrar o oco do altar?

O ritmo do rio por entre os sulcos da Terra ressoa troncos vivos em mãos fortes aos ouvidos surdos do deserto até que raízes novas num verão blasfêmico dancem como bêbados insones as notas azuis de um infortúnio ardente.