quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Quando o velho lança seu olhar para trás

Quando após mil noites de calor o choro teve de ser engolido para aquecer seus ossos fracos, o velho sentiu na pele o suor fresco dos amores de uma vida toda coçar os sulcos dos estragos que os anos lhe causaram. Não ia tão poído mesmo com todo o sereno da volúpia infernal e dos desejos imundos,mas sentia o amarelecer dos dedos tão ácido que podia jurar por amor à vida não tragar mais o fogo eterno dos ébrios.
Ao lançar seu olhar para o passado, o velho sentiu-se tão só como o dia em que viu o mar pela primeira vez. As águas que tantos anos levaram para acumular a maior de todas as belezas choviam sem mais nem menos só para fazê-lo entender que todo corpo deve submergir por completo em grandezas mais profundas que sua própria existência para só assim sentir o grande frescor da vida.

2 comentários:

Adh2BS disse...

Solidão, fiel companheira de todos os dias...
Abç,
Adh2bs

José disse...

Muito interessante. Sentenças tão subjetivas assim (mas não sem fundamento)permitem ao leitor criar sua própria interpretação. O texto tem aplicabilidade infinita. Lerei mais textos seus.