segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A Vila

Muito lhe foi dito acerca da perspectiva de gozar com seus próprios sentidos. Tocar-se em êxtase, contrair as volúpias de ser ébrio exige, entretanto, um alto nível de notoriedade frente à divina providência, concedida exclusivamente aos fétidos monarcas esmagadores de consciência. Só o flagelo lhe é próprio. Procura por vezes, cores e aromas que preenchem visivelmente os arredores do castelo, sentindo porém que a atração baseia-se apenas em provar por instantes o néctar desconhecido. Não deseja possuí-lo pela eternidade pois não saberia, ao fim da vida, educar seus filhos em um pátio que seus pés não reconhecem. O castelo é místico pois lhe é negada a entrada. A porta que detém as sagradas arcas atrai, e esta é sua exclusiva função, seu grande motivo de existência: Situar posições. Inspira orgasmos que nunca serão gemidos e assim eleva-se em seu pedestal, suprimindo do alto de sua cátedra o morador da vila, dono apenas de suas próprias aspirações. Puro e simples, o habitante encara por horas a cerca e padece do mesmo mal que esgota seus companheiros, o único sentimento a que lhes mantém vivos: esforçar-se em todas as dimensões para que os pedaços de mármore depostos venham a compor as lápides reais, a morada coletiva de todos os monarcas deste pútrido castelo.

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