sábado, 19 de setembro de 2009

A infância de meu pai

O cheiro de goiaba vive lá. Muitos verões choveram água quente pela pele e assim poderiam continuar a escorrer por séculos o tanto que fosse, sem que nada de torrencial nestes anos velhos houvesse para dissolvê-lo. Nem mesmo o sangue que bebeu no copo estreito da esperança disfarçou algum sentido, por mais sabor que lhe faltara nas tardes em que o sol era o sol dos miseráveis. Os verões e o sangue passam tragados pelo tempo e assim há de ser por eras. Não que a vida deva ser pouca, pois esta é tanta e tão intensa quanto uma nau desenfreada rumo à pior tormenta, com suas calhas revestidas pela madeira mais podre destes sujos descaminhos de um mundo cego. Aí está um jeito bom de viver! Um destrambelhar insone que por mais insano e mesmo após muitos verões terem chovido água quente pela pele, nada de torrencial nestes anos velhos foi capaz de dissolver. O cheiro de goiaba ainda vive lá.

3 comentários:

tutaméia disse...

Sabe GregorRum...
sô é mais do desenho ...mesmo que por horas queira não mostrá-los a vida alguma...e mais ainda, sô do desconexo... de traços intensos e desenfreados, como um nau perdida que se encontra na manhã seguinte rumando o sol quente que bate na pele...
Acho que me perco quando os traços são tão certos... por isso sonho com desenho.. viajando nos traços..pensando os passos,repensando cada cor que entraria nos compassos.
tuas palavras rimadas ou não, são belas por serem si só tão verdadeiras que Sultão nenhum há de entendê-las...e pra isso elas são, creio eu,palavras rimadas de uma vida real, crua, e fiel à luta de um povo, que viveu verões a queimar e a destrambelhar sonhos nus de descaminhos quaisquer....

Adh2BS disse...

Onde está?
Onde estou?
Quem vai lá?
Com quem vou?

Onde está?
Onde estou?
Quem eu sou?
Volto já!

Adh2bs

José disse...

Você está certo. Deve-se escrever para si mesmo. Escrever as próprias verdades, e escrevê-las com beleza. Os outros devem ficar só com a beleza, ela já lhes basta.