quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Livre

Há muito que sua enxada batia forte. Tão forte que ao chegar um sopro quente em sua pele, sentiu como se num rio estivesse a brincar com sua gente. Tal foi a delicadeza, que sentou para ver o vento com mãos e pés que não se agüentavam mais. Nunca leu palavra alguma da poesia mais simples que fosse, mas via o vento como ninguém, passando com atenção pelas sombras que faziam as folhas na plantação, páginas sem rumo, sem dono, que na lida ensinavam uma vida de pássaro. Observava os bichos comerem frutas, milho, mato; conversava com seu fumo, sua fumaça, sobre as coisas que via. Viu como as cercas eram firmes, como seus calos eram duros, viu a casa grande do Senhor e sua roça formosa. E disso tudo que via, o que mais gostava era o vento, sem rumo, sem dono, sem sofrimento. Por hoje, a lida aos montes lhe cansaria, tanto trabalho que lhe restava na terra que não lhe pertencia. Apagou a guimba na crosta dura da mão e fez com que os pés cansados doessem novamente o sustento que lhe esperava doer. As tais cercas, porém, não bastaram para conter o que o vento lhe contou, pois a noite reserva grandes novidades à sua gente e seu fumo, que sem dono e sem rumo brincarão o sopro quente sob um céu de estrelas.

3 comentários:

tutaméia disse...

lindo você.e as palavras.e o vento que passa nesse chuvoso dia sem estrelas...

Erlândia Ribeiro disse...

Olá Gregor Samsa(adoro esse personagem do Franz Kafka em "A metamorfose")

Fiquei muito contente com seu comentário em meu texto na verdade teu comentário tambem é um texto vi seus últimos escritos.Consigui sorver cada palavra que me escrevestes! Viajei por entre as tuas palavras! Como são raras pessoas que conseguem escrever assim tão bem.Gostei muitissimo desse teu cantinho onde escreves teus textos. já estou lhe seguindo.

Um grande abraço!

Gabriela Domiciano disse...

lindo texto, extremamente poético, que a poesia não é apenas as palavras e está ao alcance de qualquer um!!

Livre, livre como o vento!!