quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Contos Fracassados

...lançam fora as chaves de sua clausura sempre no despontar das manhãs. Surpreso por sua metamorfose, logo após a primeira das noites sob o poder do incenso, um misto de dúvida e raiva tomou-lhe o sangue como se já não bastasse toda a energia desviada às vísceras num metabolismo autofágico...

À noite imundos hábitos silenciam-se. Ao redor de olhos fechados, formas ganham traços destinados ao fracasso. Cenas de pouca luz, invisíveis a cores tão berrantes, enfeitam ilhas de miseráveis, que sob o signo da chibata dançam a repetição até que seus corpos embruteçam. Certezas tão encardidas, tão empoeiradas, tão necessitadas destes contos fracassados, destas invisíveis cenas...
No fracasso, na eterna sede por sangrar palavras ao fundo abismo entre o incenso e o esgoto, olhares se cruzam atentos, sem cor alguma a procurar, entrelaçando matizes que se abastecem da energia consumida dia após dia, sob a cega claridade que vai deixando insensíveis forças interiores capazes de ativar os sentidos.
Luzes e cores descartáveis iluminam somente o amontoado de carne morta, que baila ao som estridente da obediência, desprezando pequenos vermes que arejam o solo e fragmentam a podridão. Estes, tratados por vermes fracassados, deixam de cruzar a dolorosa fronteira da inversão de papéis que almeja alcançar o cume para poder também comer a carne obediente. A manhã não lhes ameaça o fim do universo onírico que os submerge às trevas, noite após noite, onde seus contos são postos a sangrar.
Sangram e morrem, fracassam por não ter cor alguma para bailar.
Sangram e morrem, fracassam por não ter cor alguma.

Um comentário:

tutaméia disse...

há noites, em que o cheiro de sandalo nos asfixia,
fazendo-nos comprimir os olhos até cerrá-los.
lágrimas de desespero ao ouvir silenciar os gritos fracassados
daqueles que não dormem...
ao amanhecer, um grito ensurdecedor nos arrebata de profundos sonos.
sem nos esquecermos dos prazeres que nos envolta,
assistimos a carne embrutecer ao som de músicas silenciosas.
uma dança, em que a cada ruflar de pés, a poeira levanta,
escondendo emcabuladamente qualquer sorriso, capaz de sensibilizar as forças interiores.
os vermes, crescem, com clareza e enraivecem a cada grito de ordem...
gritam para que se construam muros.

mal sabem, que seus dias estão contados...
pois há quem baile diferente,
há que sussurre gritos contrários para a destruição...
um dia...cada verme amanhecerá preso em sua própria porta,
e sangrando, não lembrão que atiraram suas chaves ao curso
do esgoto, com medo que alguém os tirasse de lá.

os muros, cairão...
e todos os vermes dormirão...
eternamente no inferno.